"Cidadão Kane": o filme, a batalha e o Castelo Hearst
Fotos: divulgação |
“Cidadão Kane” (Citizen Kane,
1941) mostra a trajetória pessoal e profissional do maior magnata da
comunicação impressa americana, no início do século 20: Charles Foster Kane,
dono do Jornal ‘Inquirer’.
A última palavra de Kane, antes
de morrer, foi ‘Rosebud’. Numa
tentativa de descobrir o que isso significava, toda a vida do magnata passou a ser desvendada e apresentada em flashbacks. Kane ganhou uma grande fortuna ainda criança, cresceu voluntarioso e orgulhoso,
e montou, com o Inquirer, um império
sem medidas. Casou-se com a sobrinha do presidente americano e tentou a carreira
política, sem sucesso. Casou-se, mais uma vez, com uma cantora medíocre e
construiu um palácio que chamou de Xanadu. Montou uma das maiores coleções de
arte de que o mundo teve notícia. Como só dava importância a si mesmo, foi
abandonado pelas esposas e pelos amigos. Terminou seus dias em seu castelo,
solitário e infeliz.
Considerado até os dias de hoje
como o melhor filme já realizado de todos os tempos, “Cidadão Kane” foi, ao mesmo tempo, a
obra-prima de Orson Welles e a sua
desgraça. O filme foi baseado na vida do magnata da comunicação, William Randolph Hearst que, ao saber
que Cidadão Kane exporia a sua vida nas telas de cinema, travou uma batalha descomunal contra
Welles e Hollywood para evitar que o filme fosse apresentado ao grande público.
Hearst e Welles foram considerados
dois americanos geniais, cada um a seu modo. Eles eram tipos orgulhosos, talentosos e destrutivos; lutavam pelo poder e o
atingiam, e não toleravam quem ficasse no caminho. Ambos tiveram seus momentos de ruína por conta do estilo pessoal e modo de vida que escolheram para si.
Entre o final do século 19 e o início do século 20, William
Radolph Hearst revolucionou a publicação de jornais. Amante do sensacionalismo, ele conhecia o
poder de detalhes mórbidos, de fotografias, de desenhos e da manipulação. Tornou-se lendária a história de seu funcionário, Frederic Remington, que chegou em Cuba, em
1897, para cobrir uma possível guerra entre Espanha e EUA. O fotografo viu que não havia nenhuma guerra a ser coberta e pediu permissão para voltar para os EUA. A resposta de Hearst foi: “Arranje as imagens, que eu arranjo a guerra”.
William R. Hearst |
Orson Welles, por sua vez, forjou
sua carreira baseada em polêmicas. Aos 20 anos, brilhou no teatro, montando a
peça Macbeth, de Shakespeare, no bairro do Harlem, somente com atores negros e novatos na arte da dramaturgia: uma ousadia para a época! O homem dominou o rádio.
Aos 24 anos, ele já era o jovem mais poderoso de Hollywood. Para Welles, somente o céu
era o limite. Todavia, apesar de brilhante e prodígio, o talentoso ator e
diretor perdeu a batalha contra Hearst e sofreu as consequências durante toda a
sua vida.
“O Rancho”, ou melhor, o fantástico Castelo Hearst!
No filme “Cidadão Kane” ele foi
chamado de Xanadu. No mundo real, o palácio do magnata das comunicações atende pelo nome de “Castelo Hearst” (quando Hearst era vivo, ele chamava o seu castelo - carinhosamente - de 'O Rancho'), está localizado na encosta de uma montanha, em
San Simeon, na Califórnia, um lugar entre Los Angeles e San Francisco, e é aberto para
visitação.
De estilo mediterrâneo, o Castelo
Hearst é considerado como uma das construções humanas mais belas que existe, com
detalhes arquitetônicos inspirados no mediterrâneo e até em catedrais espanholas.
Os maravilhosos jardins que ornamentam os arredores do castelo dão vista para o mar e foram inspirados nos jardins europeus, especialmente, os italianos e os espanhóis. O castelo possui uma piscina coberta, cujo piso, paredes e teto foram feitos de mosaicos de ouro e pastilhas azuis oriundas de Veneza. Um verdadeiro charme! A piscina aberta se chama Netuno e possui uma fachada inspirada nos templos gregos. Ao seu redor, a decoração é composta por várias das obras de arte que Hearst adquiriu em suas diversas viagens pelo mundo.
San Simeon foi, durante muitos anos, um ponto de
encontro de atores e diretores de Hollywood. Charlie
Chaplin, Clark Gable e Warner deram a graça por lá. Dizem que Hearst
transformou San Simeon em um castelo, mas foi a atriz Marion Davies, amante e grande
paixão da sua vida, que levou Hollywood para lá.
Tive a oportunidade de assistir
um DVD sobre o Castelo Hearst. O lugar é magnífico e faz parte do roteiro do
trem de luxo “The American Orient Express”, no trajeto entre Los Angeles e
Seattle. Cinematográfico em todos os
sentidos, o Hearst Castle me fez sonhar acordada com a ideia de conhecê-lo quando eu visitar os Estados Unidos.
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Fontes de informação:
- Documentário “A batalha por Cidadão Kane” (The Battle Over Citizen Kane) - DVD
- Documentário The World Class Trains – The American Orient Express - DVD
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