"O Caso do Hotel Bertram" em Londres

 


O caso do Hotel Bertram (L&PM Pocket, 2016) é um dos romances policiais mais intrigantes da escritora Agatha Christie (1890-1976), seja pelo ambiente onde a história se passa, seja por ser encabeçado pela adorável Miss Marple. 

"Se você se afastar de uma despretenciosa rua que sai do parque e virar à esquerda e depois à direita uma ou duas vezes, irá se encontrar numa rua tranquila, onde fica o Hotel Bertram do lado direito."

Um dos pontos altos para a trama funcionar tão bem é o local onde ela se desenvolve: o hotel do título; um espaço requintado, aconchegante, de serviço impecável e que, apesar de passar pelas turbulências da II Guerra Mundial, conseguiu manter o mesmo aspecto e atmosfera do ano de 1939, quando Miss Marple o frequentou ainda jovem. 

Para quem conhece os personagens criados por Agatha Christie, Miss Marple é uma detetive amadora já idosa. Onde quer que vá, algo de sinistro acontece, e ela, obviamente, sempre consegue ajudar a polícia local a solucionar o mistério. Não podia ser diferente nesse hotel, aparentemente, perfeito e frequentado pelo alto escalão do clero, por idosas aristocráticas, por celebridades internacionais e por outros hóspedes com poder aquisitivo ou títulos de nobreza suficientes para hospedar-se nele. Adicionalmente, locais como esse também têm sua cota de funcionários de todos os tipos, dos mais amigáveis até os muito ressentidos. Não demorou para Miss Marple perceber que, apesar da aparência de uma instituição conservadora dos velhos e bons hábitos britânicos, algo não se encaixava naquele lugar. Junte tudo isso e você terá em mãos um excelente romance policial para passar uma boa tarde de domingo.


O Hotel Bertram da vida real

Foto: Fran Mateus

De acordo com o livro 111 literary places in London that you shouldn't miss, de autoria de Terry Philpot e fotos de Karin Tearle (Emons Publishers, 2023), o hotel que Christie usou como inspiração para o seu Bertram é o Flemings Mayfair, localizado na Half Moon Street, em Mayfair, próximo da Piccadilly Circus e do Green Park. Por isso, na minha última viagem a Londres, dei um jeito de ir ao local dar uma sondada e checar se as coisas mudaram muito por lá desde 1965, quando o romance de Agatha Christie foi publicado.

"Ao pé da escada que levava às grandes portas de vaivém, encontrava-se um senhor que, à primeira vista, parecia um marechal do campo. Galões dourados e condecorações adornavam-lhe o peito largo e viril. A postura era impecável. Recebia-nos bastante solícito quando deixávamos, com reumática dificuldade, um taxi ou carro particular, encaminhando-nos cuidadosamente pelos degraus e através da silenciosa porta de vaivém."

Pelo que observei, Miss Marple ficaria feliz em ver que, na entrada do hotel, os hóspedes continuam sendo recebidos pelos educados guardiões das portas. Para desgosto dela, todavia, o uniforme deles passou por uma boa atualizada. Outra coisa que resistiu à passagem do tempo foi o alto preço das diárias; afinal, um hotel de luxo, aristocrático e literário que se preze precisa manter o seu público seleto. Como dizem nas altas rodas de qualquer lugar do mundo, "dinheiro atrai dinheiro".

Se gostar desse tipo de literatura, tire umas horas para ler esse romance policial. O prazer é inenarrável! Você também pode assistir a adaptação da história para a televisão: At Bertram's Hotel (ABC, 2007), com título e idioma originais (opção perfeita para praticar a escuta do inglês britânico). Além dessas alternativas, se tiver bala na agulha, que tal, na sua próxima visita a Londres, se hospedar no Flemings Mayfair? Ou ir lá para tomar o chá da tarde? É quase certo que você se sentirá um personagem (tão nostálgico quanto Miss Marple) das histórias sensacionais de Agatha Christie. Sem murders, please!


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