"O sol também se levanta": O 'papa' em Pamplona (II)
Desde o meio-dia de hoje, 06 de julho, até a
meia-noite do próximo dia 14, Pamplona sediará um evento que encantava Ernest Hemingway. Qual? A
‘Fiesta
de San Fermín’. O ‘Papa’ foi, e continua sendo, o maior
garoto-propaganda da badalação espanhola, que mistura rituais religiosos (como
procissões e cantorias) com as tão conhecidas (e, por muitos, criticadas)
touradas.
Como
vimos na postagem anterior, Jack Barnes tinha ‘afición’ pelas touradas e
costumava passar os seus verões na Espanha. Sua viagem começa com paradas para pescarias em
Burguette, seguindo dali, geralmente acompanhado de amigos, para as curtições
da região de Navarra, na região basca.
Para
apreciar o passeio por Pamplona com os amigos Jack, Bill, Brett, Mike e Cohn, sugiro que, após a leitura de “O sol também se levanta”,
você assista o filme de 1957, “E agora
brilha o sol” (The sun also
rises). Além de ser bem fiel ao texto, ele nos proporciona a vantagem de apreciarmos, em imagens, o que Hem – e sua trupe de personagens - fez ao vivo.
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Mike, Robert, Brett e Bill no restaurante do Hotel Montoya |
O quinteto chegou à cidade e, nem desfez as malas no Hotel Montoya, já seguiu para o point mais comentado do livro: o Café Iruña. Instalados em mesas de mármore e confortáveis cadeiras de vime, no frescor da arcada que dava para a Plaza del Castillo, eles bebericaram os seus ‘fundadores’, enquanto observavam o movimento da cidade, que estava em preparação para as festividades.
“Depois do almoço, fomos todos ao Iruña. No café havia gente
demais, e à medida que se aproximava a hora das corridas a multidão aumentava,
tanto que era preciso juntar as mesas. Todos os dias antes das corridas,
ouvia-se o zumbido da multidão. Habitualmente, não havia no Iruña tanto barulho
por maior que fosse a afluência. Mas o zumbido se prolongava, e nós estávamos
ali e fazíamos parte dele.”
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Mike e Brett no Café Iruña, situado na Plaza del Castillo. |
“A cidade se preparava para a fiesta. Os operários erguiam as grades
para fechar as ruas laterais, quando os touros, saindo dos currais,
atravessassem a cidade em direção às arenas...”
Quando o chupinazo , lançamento do foguete inaugural, começa, ao meio-dia, a cidade enlouquece. O clima na cidade é democrático: chega a Pamplona desde gente simples do campo, como chega gente rica de Biarritz e San Sebastián.
“No domingo, 6 de julho, produziu-se a explosão da fiesta. Não há
outra maneira de expressá-lo. Durante todo o dia chegara gente do campo, mas
todos se dispersavam na cidade e eram por ela absorvidos, de modo que ninguém
os notava...No dia da fiesta de San Firmín, reuniram-se de manha cedo nos cafés
das vielas da cidade... Chegavam incessantemente grandes automóveis de Biarritz
e San Sebastian e estacionavam em torno da praça.”
“A fiesta começara realmente. E durou, dia e noite, sete dias. A dança continuou, as libações continuaram e o ruído não cessara. Passaram-se coisas que só podiam acontecer mesmo durante a fiesta. Tudo se tornou absolutamente irreal, sendo que nada mais poderia ter qualquer consequência. Parecia inadequado, ali, pensar em consequência, e durante a fiesta, mesmo nos momentos de calma, tinha-se a impressão de que era preciso gritar para fazer-se ouvir quando se tinha de dizer alguma coisa. Era a mesma sensação em tudo que fazíamos. Era a fiesta e durou sete dias.”
Uma das cenas mais divertidas do filme é quando Mike e Bill, bêbados desde a noite anterior e divertindo-se enlouquecidamente, participam do encierro, por volta das sete horas da manhã, que consiste em correr de diversos touros, pelas ruas do centro histórico de Pamplona, numa distância de cerca de 800 metros e 4 minutos, e culmina na Praça de Touros. Lá, são soltos alguns animais para que os corajosos corredores possam dominá-lo. Enquanto isso, apaixonado por Brett, e observado de perto por Robert, Jack explicava à moça todos os detalhes do universo das touradas.
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Robert, Brett e Jack |
“Fiz Brett observar como Romero, com sua capa, afastava o touro de
um cavalo caído, como o controlava com a capa, fazendo-o voltar-se branda,
suavemente, sem fatigá-lo; Brett viu também que Romero evitava os movimentos
bruscos, poupando os touros até o fim, ao momento em que os queria, não
estafados e contorcidos, mas esgotando-se pouco a pouco. Viu como Romero
trabalhava sempre os touros bem de perto, e mostrei-lhe os truques empregados
pelos outros toureiros, a fim de dar a impressão de que também trabalhavam por
perto... Romero nunca fazia contorções, seu estilo era puro, direto e natural.”
Depois de sete dias de animação e bebedeira, a diversão acaba à meia-noite do dia 14 de julho, com a canção ‘Pobre de mí’.
“No dia seguinte, de manhã, estava tudo acabado. A fiesta terminara.
Levantei-me por volta das nove horas, tomei um banho, vesti-me e desci. A praça
estava deserta e não havia ninguém na rua. Algumas crianças apanhavam as varas
dos foguetes, na praça. Os cafés mal começavam a abrir-se, e os garçons traziam
para fora as confortáveis cadeiras de vime e as colocavam em torno das mesas de
mármore, à sombra da arcada. As ruas estavam sendo varridas e regadas com uma
mangueira.
Sentei-me a uma das cadeiras de vime e recostei-me comodamente. O
garçom não se apressava em servir. Nas colunas da arcada viam-se ainda os
grandes cartazes brancos que haviam anunciado o desembarque dos touros e os
horários de partida dos trens especiais. Apareceu um garçom de avental azul com
um balde d´água e um esfregão, e começou a rasgar os cartazes e a limpar os
pilares para retirar os restos de papel que haviam ficado grudado na pedra. A fiesta
terminara.”
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Mike, Bill e Jake na frente do Hotel Montoya, prontos para deixar Pamplona. |
O Café Iruña (que em basco significa ‘Café Pamplona’) foi o lugar que mais me fascinou no filme e existe até hoje. Os demais cafés, como o Suizo, por exemplo, já desapareceram. Existe na cidade, uma lista de lugares por onde Hemingway andou perambulando. Todos os points são procurados pelos fãs do escritor, que fazem questão de refazer os seus passos pela cidade.
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Hemingway visitou Pamplona nos anos de 1923, 1924, 1925, 1926, 1927, 1929, 1931, 1953, 1956 e 1959 |
A Festa de São Fermino é considerada uma das maiores celebrações do mundo e, apesar de ter séculos de existência, Pamplona credita a sua fama ao livro “O sol também se levanta”. Hemingway visitou a cidade, pela primeira vez, em 1923 e retornou nos anos de 1924-27, 1929, 1931, 1953, 1956 e 1959. Se estivesse vivo, ele estaria prestes a completar 113 anos de existência (é possível, tem gente que está vida com mais de 120 anos de idade!) e, certamente, iria festejar - antecipadamente - o seu aniversário nas ruas de Pamplona. Imagine a alegria que a cidade não sentiria se isso ainda fosse possível. Bons tempos aqueles...
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Especial Hemingway, este mês, neste blog. Acesse:
Para saber mais sobre as atrações de Pamplona, visite o link: http://www.enforex.com/espanhol/atracoes-pamplona.html
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