Reflexões sobre a vida em "As neves do Kilimanjaro"
Sobre o conto
“Tudo estava chegando ao fim, pensou ele. Agora
ele nunca teria a oportunidade de terminar isso... Percebia, também, que jamais
escreveria sobre os temas que deixara para colocar no papel quando realmente se
sentisse preparado para escrever sobre eles”.
O pensamento acima é de Harry Street, um escritor americano e homem vigoroso, que volta à África na tentativa de reviver os momentos felizes de quando lá esteve pela primeira vez. No meio da selva, tentando fotografar impalas, ele sofre um arranhão e coça a região afetada, sem se lembrar de passar iodo. O ferimento se agrava a ponto dele acreditar que sua perna precisa ser amputada. Aguardando um socorro que não chega, ele se vê frente a frente com a morte. É nesse momento que Harry repassa a sua vida e pensa em tudo que gostaria de ter feito e escrito, mas que havia postergado por não se sentir preparado ou ter medo do fracasso. Ali, deitado naquele catre aos pés do Monte Kilimanjaro, ele sabia que não tinha mais tempo.
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“As Neves do Kilimanjaro” é a obra de Hemingway que mais mexeu comigo e a razão disso é a sua mensagem, que toca direto numa ferida universal do ser humano e nos força a refletir:
“o que gostaríamos de fazer
e postergamos, achando que teremos a vida inteira pela frente? E se esse tempo
idealizado não for mais do que poucos anos?”
Quando li esse conto de Ernest Hemingway,
lembrei-me de uma fala do personagem de Woody Allen no filme “Hannah e suas
irmãs”:
“... E se só se vive uma
vez? Não quer viver essa experiência?
Pensei que deveria parar de procurar respostas que nunca encontraria e curtir a
vida enquanto durasse”.
O conto de 1936 foi levado às
telas de cinema, em 1952, pelas mãos do diretor Henry King, e teve como atores
principais Gregory Peck (Harry Street), Susan Hayward (sua última esposa, a que
está com ele nos momentos difíceis na África) e Ava Gardner (a primeira paixão
de Herry, mostrada em flashbacks, enquanto o escritor relembra a sua vida). O filme “As Neves do Kilimanjaro”
(The snows of Kilimajaro) foi
indicado ao Oscar de 1952 nas categorias ‘fotografia’ e ‘direção de arte’. Em
relação ao roteiro, a sua adaptação não foi totalmente fiel ao texto, mas contemplou
os aspectos mais relevantes da estória de Hemingway.
Sobre o Monte Kilimanjaro
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Monte Kilimanjaro |
“Bem ao longe, vislumbrou umas gazelas e
uma manada de zebras embranquiçada sobre o fundo verde da floresta. O acampamento
era muito agradável, localizado sob arvores grandes e ao sopé de uma colina, com água
corrente e perto de um bebedouro natural já quase seco, onde todas as manhãs
bandos de aves silvestres se reuniam” (As neves do Kilimanjaro).
Considerada a montanha mais alta
da África, o Kilimanjaro situa-se no Grande Vale do Rift, entre o norte da
Tanzânia e a fronteira com o Quênia. O lugar é considerado uma das maravilhas
naturais do mundo. Com cerca de 5895 metros de altitude, o monte africano é
conhecido por possuir o pico coberto ‘eternamente’ por neve. Porém, com as
mudanças climáticas, o aquecimento global tem derretido a cada dia um pouco
deste encanto.
Apaixonado por pescarias, quando esteve no Quênia, Hemingway andou se divertindo nas águas do Canal do Pemba, em Shimoni. O lugar é conhecido como o paraíso dos pescadores por ser o habitat de peixes como marlins, peixes-espadas e tubarões-anequim. O melhor período para quem deseja imitar o escritor e pescar por aqueles lados são os meses de dezembro até meados de março.
Fontes de consultas:
A Enciclopédia das Maravilhas do Mundo, de Robert Hamilton, Editora
Parragon
1000 lugares para conhecer antes de morrer: um guia para toda a vida,
de Patrícia Schultz. Ed. Sextante.
Parabéns pelo texto! Me despertou mais interesse em assistir o filme
ResponderExcluirObrigada! Eu curti muito tanto o conto quanto o filme.
ExcluirVou torcer para você curtir também :-)
ExcluirO que aconteceu com Cinthia Green???
ResponderExcluirNo filme, infelizmente, ela morre servindo como enfermeira numa guerra. No conto de Hemingway, ele dá a entender que ela foi a primeira mulher da vida de Harry e que eles, apenas, se separaram e cada um seguiu com a sua vida.
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